ABNA Brasil: Qual é o status das filhas na família, segundo as narrações? Por favor, cite exemplos da valorização das filhas nas tradições (Hadith).
Resposta:
A família, na visão do Islã, é uma instituição sagrada que desempenha um papel essencial na formação da cultura e na saúde dos indivíduos na sociedade. Nesta família, as expectativas e deveres de homens e mulheres são diferentes, mas o que torna os seres humanos amados por Deus não é o seu gênero, e sim as suas ações. Embora o tipo de graça e misericórdia de Deus para cada gênero humano também seja diferente, o Deus Todo-Poderoso fez da existência de uma filha uma bênção.
Além disso, a religião do Islã enfatiza e valoriza o respeito pela filha como uma característica humana. De acordo com os ensinamentos islâmicos, o respeito pela filha não é apenas em palavras e slogans, mas deve ser demonstrado em atos. Por esta razão, existem inúmeros Hadiths na conduta e nas palavras dos Imaculados (A.S.) que se referem à bênção, ao respeito e à exaltação das filhas, algumas das quais serão mencionadas neste texto.
De acordo com os ensinamentos islâmicos, não há diferença entre os gêneros masculino e feminino, ou entre filho e filha. O único critério para julgamento e superioridade é a "Piedade (Taqwā)", como diz o Alcorão, dirigindo-se a homens e mulheres:
"Ó humanos, na verdade, Nós vos criamos de um macho e de uma fêmea, e vos fizemos povos e tribos, para que vos conheçais. Por certo, o mais nobre de vós, perante Deus, é o mais piedoso (atqākum). Por certo, Deus é Onisciente, Conhecedor." (1)
Portanto, na visão do Islã, o critério para ser bom ou mau não é o gênero dos indivíduos, mas sim as suas ações que os tornam amados por Deus. Embora as expectativas e deveres de homens e mulheres sejam diferentes, e o tipo de graça e misericórdia que Deus concede a eles também seja diferente, a filha possui características especiais que serão abordadas a seguir.
A Perspectiva de Valor do Islã sobre a Filha
Conforme mencionado, na cultura e no pensamento islâmico, as filhas possuem um status especial. As belas expressões utilizadas para as filhas em versículos e narrações indicam a sua distinção e características únicas. O Alcorão Sagrado, no Versículo 49 da Sura Ash-Shūrā (A Consulta), refere-se à filha como um grande presente que Deus concede a quem Ele deseja.
Na cultura de AhlulBayt (A.S.), mulheres e filhas gozam de um status especial e são mencionadas com termos delicados e belos, como se segue:
As Filhas são Como Flores (Rayhānah)
Nas narrações dos Imaculados (A.S.), as filhas são descritas como flores. Amir al-Mu'minin Ali (A.S.) disse:
"Pois a mulher é uma flor perfumada (Rayhānah) e não uma gerente de tarefas (Qahramānah). Em toda e qualquer situação, seja gentil (dārihā) com ela e conviva bem com ela, para que tua vida seja pura (ṣafw)." (2)
Além disso, em várias narrações, as filhas são chamadas de "Bondade (Hasanah) e Virtude" (3). Foi relatado que se alguém se sentia infeliz por ter uma filha, os Imāms (A.S.) o confrontavam. Por exemplo, o Imām Sadiq (A.S.) disse a uma pessoa que estava aborrecida por ter uma filha: "Ela é uma flor perfumada (Rayhānah) que tu cheiras." (4)
Quando o Profeta (S.A.A.W.) foi dado as boas-novas sobre o nascimento de Fātimah (S.A.), viu-se insatisfação e aversão nos rostos de seus Companheiros. O Mensageiro de Deus (S.A.A.W.) disse-lhes: "O que vos acontece? Por que vossos rostos mudaram? A filha é uma flor perfumada que eu cheiro, e o seu sustento está com Deus." (5)
As Filhas são as Portas da Misericórdia Divina
O nascimento de uma filha é apresentado nas tradições islâmicas como a abertura das portas da Misericórdia de Deus para a família. O Mensageiro de Deus (S.A.A.W.) disse: "Não há casa que tenha filhas, exceto que, todos os dias, doze bênçãos e misericórdias descem do céu sobre essa casa." (6)
Nas narrações, as filhas são descritas como os melhores filhos (Awlād). Não só Deus as olha com Misericórdia, mas também por causa de sua existência, o pai, a mãe e até outros indivíduos recebem a graça e a Misericórdia Divina. O Imām Sadiq (A.S.) narrou que o Mensageiro de Deus (S.A.A.W.) disse:
"Que bons filhos são as filhas: gentis e compassivas, ajudantes e assistentes, companheiras e confidentes, abençoadas e cheias de bondade, amantes da limpeza e pureza." (7)
O Imām Bāqir (A.S.) também disse:
"Quando um homem tem uma filha, Deus envia um anjo a ela, que passa a sua asa sobre a cabeça e o peito dela e diz: 'Ela é um ser frágil, criada de fraqueza. Aquele que a sustenta será assistido por Mim (Mu'ān) até o Dia da Ressurreição.'" (8)
O Imām Riḍā (A.S.) disse: "Deus é mais bondoso com a filha do que com o filho. Quem alegra a sua filha, Deus o alegrará no Dia da Ressurreição." (9)
A exaltação do status das filhas pelo Islã e a ênfase na necessidade de atenção e carinho por elas não se limitam aos casos mencionados. Pelo contrário, essas narrações são tão numerosas que ocupam seções separadas nas fontes de Hadith xiitas. Por exemplo, no livro Al-Kāfī, há um capítulo sobre "A Virtude das Filhas" (10); em Wasā’il ash-Shi’ah, há capítulos sobre "O Mérito das Filhas, a Recomendação de Pedir Filhas a Deus e Honrá-las" (11), bem como sobre "A Recomendação de Maior Ternura e Compaixão pelas Filhas em Comparação com os Filhos" (12). Tudo isso demonstra a elevada atenção do Islã às filhas.
Conclusão
Portanto, na religião do Islã, as filhas possuem um valor e um status elevados. Em versículos e narrações, elas são mencionadas com belas expressões como "Presente Divino," "Flor Perfumada (Rayhānah)," "Bondade (Hasanah)", etc. Cada uma dessas expressões indica a distinção e as características naturais e espirituais especiais das filhas. As filhas, na cultura das narrações, são os melhores filhos que se tornam fonte de bênção e misericórdia divina. O que emerge dos ensinamentos do Alcorão e do Hadith é uma lição dada à família e à sociedade: devemos ter uma relação mais carinhosa, respeitosa e honrosa com as filhas, seguindo o modelo dos Dois Pesos (Thaqalayn) (as palavras de Deus e AhlulBayt).
Notas de Rodapé:
- Al-Hujurāt (Os Aposentos) / 13.
- Ibn Bābūyah, Man Lā Yahḍuruhu al-Faqīh, v. 3, p. 556.
- Kulaynī, Al-Kāfī, v. 6, p. 6.
- Ibidem., v. 6, p. 6.
- Ibn Bābūyah, Man Lā Yahḍuruhu al-Faqīh, v. 3, p. 481.
- Shu'ayrī, Jāmi' al-Akhbār, p. 105.
- Kulaynī, Al-Kāfī, v. 6, p. 5.
- Ibn Bābūyah, Thawāb al-A'māl wa 'Iqāb al-A'māl, p. 202.
- Kulaynī, Al-Kāfī, v. 6, p. 6.
- Ibidem., v. 6, pp. 4-12.
- Shaykh Hurr Āmulī, Wasā’il ash-Shi’ah, v. 21, pp. 361-363.
- Ibidem., v. 21, p. 367; Nūrī, Mustadrak al-Wasā’il, v. 15, p. 118.
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